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domingo, 2 de outubro de 2011

Armas Curtas na II Guerra Mundial

Neste artigo pretendemos descrever, de forma resumida, as principais características das armas curtas, sejam elas revólveres ou pistolas semi-automáticas, que participaram do maior conflito armado da História, a II Grande Guerra, que teve seu início em setembro de 1939 e encerrando-se em 1945. O teatro de operações deste conflito foi imenso, abrangendo praticamente toda a Europa, parte da Ásia, Japão e norte da África, com diversos países aliados ou não, participando de forma direta ou indireta, dos combates.

O uso das armas curtas em combate visa, tradicionalmente, a proteção e defesa pessoal de seus portadores. Sozinha, num âmbito mais abrangente de armas militares em geral, ela não tem muita importância e não decide uma batalha. Devido ao pouco alcance e limitada quantidade de munição, ela é realmente destinada a uso individual, raramente mudando de uma forma ou de outra o curso dos acontecimentos.

De maneira quase generalizada nos diversos países que participavam do conflito, a pistola ou revólver eram destinados como arma de porte pelos oficiais e em alguns casos, aos sargentos ou cabos quando em comando de patrulhas. O soldado raso geralmente portava somente armas longas, como os fuzis, carabinas e submetralhadoras.

Longe de querer aqui filosofar sobre a velha polêmica envolvendo pistolas e revólveres quanto aos seus méritos e qualidades individuais, temos que reconhecer que a pistola se tornou, a partir da I Guerra, a arma leve de porte militar por excelência, substituindo o revólver em praticamente todos os exércitos envolvidos, embora ainda esses dois tipos de arma conviveram juntos por um longo tempo. A grosso modo, e aos olhos dos técnicos e burocratas que enfiam suas ideias goela abaixo sobre o que se deve utilizar ou não num conflito bélico, as pistolas demonstraram mais vantagens que os revólveres, principalmente em alguns pontos cruciais: a velocidade do disparo, a maior quantidade de munição em uma só carga, a facilidade de se recarregar e a maior penetração dos projéteis, geralmente encamisados. Mas, precisamos lembrar que essa situação foi analisada no início do século passado, onde a variedade de armas e tipos de munições existentes era muito mais limitada que hoje.

Militarmente falando, as pistolas só começaram a participar ativamente a partir de 1900. Até então, a hegemonia nas armas curtas ficava ao cargo dos revólveres e mesmo com o passar das primeiras décadas do século XX, eles ainda permaneceram em uso, em alguns casos, convivendo lado a lado com suas rivais, em maior ou menor escala. Isso praticamente ocorreu em quase todos os grandes exércitos da época, como Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, França, Itália e Rússia. As principais nações envolvidas e que realmente participaram com suas Forças Armadas no combate, estão listadas a seguir, com o seu respectivo armamento portátil utilizado.

ALEMANHA

A Alemanha foi um dos primeiros países do mundo a adotar uma pistola semi-automática como arma curta regulamentar para suas Forças Armadas, em substituição à um revólver, o Reichsrevolver modelo 1879; foi a pistola Parabellum P-08 (Luger), no ano de 1908; porém, antes disso a Suíça,  já em 1900, havia adotado a mesma arma para seu Exército, embora em outro calibre.

Em 1893, o alemão naturalizado norte-americano Hugo Borchardt (pron. Bork-Hardt), retornou à Alemanha, vindo dos USA onde trabalhou na Sharps e na Singer. Agora, trabalhando junto à empresa berlinense Ludwig-Loewe , patenteia o que seria a primeira pistola semi-automática a ser produzida em série e com relativo sucesso comercial. Apesar de sua aparência estranha e desajeitada, grangeou uma certa reputação no mercado civil, mas não despertou o interesse dos militares como era a intenção do fabricante. A pistola se denominava oficialmente de Selbstladepistole C93.

A pistola Borchardt de 1893 (C93), em calibre 7,65mm, com sua coronha montada

A Loewe enxergou logo que a arma teria que passar por uma remodelação para alavancar as vendas. Apesar de que Hugo Borchardt, de certa forma, se recusava a fazer alterações em um projeto que ele julgava ser perfeito e devido à crise financeira por que passava a Ludwig Loewe, Georg Luger, na época consultor técnico da empresa, foi encarregado de desenvolver modificações no projeto original. O que na verdade ocorreu é que as mudanças foram tantas que Luger acabou por projetar, praticamente, uma nova arma.

Do desenho de Borchardt, Luger manteve o sistema de culatra com ação do tipo joelho “toggle-joint“, o carregador inserido dentro da empunhadura e o sistema de disparo. Para deixar a arma mais balanceada, optou por um cano mais curto e eliminou a grande protuberância traseira, característica marcante da C93, que servia como alojamento para a mola recuperadora do ferrolho, feita em lâmina de aço; Luger transferiu essa mola para a parte posterior da empunhadura, localizada atrás do alojamento do carregador.

Assim sendo, em 1899, Luger apresenta seu primeiro protótipo que foi testado por uma comissão especial do Exército Alemão, mas de imediato recebendo uma restrição com referência ao cartucho empregado, um 7,65mm pouco mais curto que o cartucho usado na antecessora Borchardt.  O cartucho 7,65mm utilizado por Borchardt (foto à esquerda) foi o mesmo que inspirou a criação, poucos anos depois, do 7,63mm Mauser, usado nas pistolas Mauser C96; porém, o 7,65mm Borchardt possuía menor velocidade e energia.

Para o seu projeto, Luger decidiu diminuir o comprimento do cartucho em cerca de 4mm, para possibilitar o desenho de um carregador mais estreito, pois ele incluiria o novo posicionamento da mola de recuperação na parte posterior da empunhadura (foto à direita). As diferenças balísticas entre os dois cartuchos eram poucas e o poder de parada (“stopping-power“) não era muito alto em ambos, o que gerou críticas do pessoal do Exército, ainda acostumados com o grande calibre de seus antigos Reichsrevolver modelo 1879, que utilizavam um cartucho de calibre 10,6mm.

À esquerda, o cartucho 7,65mm Borchardt e o 7,65mm Parabellum

Em 1900, a D.W.M. (Deutsche Waffen und Munitionsfabrik), empresa formada pela união da Ludwig Loewe com a Deutsche Metallpatronenfabrik Lorenz em 1896, e criada por Isidor Loewe após a morte de seu irmão Ludwig, inicia a produção em série da pistola, que foi chamada de Parabellum, que também era o endereço telegráfico da empresa. NA: Parabellum, palavra oriunda da frase em latim, “Si vis Pacem, Para Bellum”, de autoria do romano Publius Flavius Renatus, que significa “Se queres a paz, prepara-te para a guerra.

A pistola Luger, pela sua importância histórica e por ter se tornado um verdadeiro ícone no mundo todo, será brevemente alvo de um artigo nosso, dedicado especificamente à ela.

A pistola possuía o sistema de culatra trancada, liberada por curto recuo do cano, usando um sistema de ação de joelho similar ao da metralhadora projetada por Sir Hiram Maxim e era exatamente igual ao empregado por Borchardt (veja nosso artigo sobre Sistemas de Culatras, neste site). Apesar de funcionar bem, exige mais peças móveis e pinos nas articulações, que com o tempo poderiam gerar algumas folgas e desgastes. Porém, a qualidade do material empregado nestas armas era tão boa que raramente se observa alguma dessas pistolas apresentando desgastes nessas peças, mesmo exemplares que foram exaustivamente utilizados. Possuía uma trava de segurança na empunhadura e uma alavanca lateral que na verdade servia para evitar que a trava da empunhadura fosse acionada, ou seja, uma trava para uma outra trava.

Ao contrário do projeto original de Borchardt, a Parabellum era uma arma estéticamente muito mais bonita, elegante, bem balanceada, com um ângulo de empunhadura acentuado, sendo esta empunhadura considerada por muitos atiradores como a melhor e a mais ergonômica das encontradas em todas as demais pistolas militares. Seu carregador era para 8 cartuchos, tanto no calibre 7,65 mm como no 9mm, e ficava inserido dentro da armação, podendo ser extraído mediante um botão retém localizado convenientemente perto do gatilho, acionado pelo polegar. O gatilho era uma bela peça, larga e confortável, posicionada numa das melhores distâncias em relação à parte posterior da arma que se conhece em armas militares.

Talvez os dois maiores problemas da Parabellum eram o mecanismo de disparo, parcialmente exposto do lado esquerdo da arma, que poderia acumular muita sujeira e engripar, e o seu sistema de culatra de ação de joelho “toggle-joint“, que aliás foi o motivo principal alegado pela comissão dos testes norte-americanos de 1907, para que não se adotasse essa arma. Tanto o sistema de culatra como de disparo exigiam tolerâncias mínimas de fabricação e ajustes perfeitos, o que fazia da arma uma das mais dispendiosas já fabricadas.

O que os americanos não gostaram do sistema “toggle-joint” é que nele, a mola recuperadora é incapaz de fechar totalmente o ferrolho quando o mesmo partir de qualquer posição. Como a Luger engatilha o percussor no curso final de fechamento do ferrolho, o mesmo só se fecha totalmente pelo impulso oriundo de seu curto completo, ou seja, quando solto desde a abertura máxima.

Exemplificando, se erguermos o ferrolho da Luger um pouco só para cima, o suficiente para engatilhar a arma e o soltarmos, ele não se fecha sozinho a partir dessa posição, pois a mola recuperadora, neste estágio, não consegue vencer a força da mola do percussor.

Pistola Parabellum modelo 1900, em calibre 7,65mm Parabellum, modelo fornecido à Suíça sob contrato

Mas voltando à história, um ano depois do nascimento da arma, em 1901, a Suíça aprovou a pistola para uso em seus exércitos e fechou um contrato de fornecimento de 3.000 peças, em calibre 7,65mm Parabellum. Nesta mesma época os Estados Unidos adquiriram 1.000 pistolas, destinadas a testes de campo.

Em 1902, George Luger resolve projetar um novo cartucho, agora em calibre 9mm, visando atender aos apelos militares; o cartucho tinha as mesmas dimensões traseiras do 7,65mm, possibilitando assim que as pistolas Parabellum se adaptariam a qualquer um deles com a simples troca do cano. A cápsula era levemente cônica (diâmetro frontal menor do que o do fundo), solução muito empregada em pistolas semi-automáticas para diminuir travamentos do cartucho dentro da cãmara no momento da extração. Esse novo cartucho, denominado de 9mm Parabellum (9×19), viria se tornar o cartucho de maior sucesso em uso no mundo, em pistolas semi-automáticas, adotado oficialmente pelos países da OTAN, substituindo inclusive, em 1985, o venerável cartucho .45 ACP, utilizado pelos Estados Unidos desde 1911. Com esse novo cartucho em produção, Luger produz algumas pistolas neste calibre e as submete à comissão avaliadora do Exército Alemão, que passa a testar a nova arma em campos de provas e nas suas próprias tropas. No ano de 1904 a marinha alemã, depois de estar examinando a pistola desde 1902, adota a arma mas um modelo com cano mais longo (6″) e com alça de mira graduada.

Em 1906 George Luger promove alterações em seu projeto de 1900, as únicas e últimas mudanças executadas nesta arma. As Lugers possuem somente dois modelos básicos, o 1900 e o 1906, denominados na comunidade colecionista de “Old Model” e “New Model”, porém cada um deles com várias alternativas de comprimento de cano e usando trava de empunhadura ou não. As principais mudanças do 1900 para o 1906 foram a troca da mola recuperadora, de lâmina de aço para espiral, as “orelhas” laterais que são apoio para se armar o ferrolho, mudaram de semi-lisas para totalmente recartilhadas e, finalmente, o extrator. A partir de 1906, quando há um cartucho na câmara, a parte superior do extrator se destaca  mais para fora, servindo como um alerta, tanto pelo tato como visualmente de que arma se encontra carregada. Aliás, as faces laterais do extrator, quando estavam visíveis, exibiam a palavra em alemão “GELADEN”, que significa “carregada”. Nas pistolas dos contratos brasileiros e portugues, a gravação era a palavra “CARREGADA”.

No decorrer deste tempo, a D.W.M. consegue fechar diversos contratos de fornecimento e a pistola começaca a fazer um sucesso inquestionável. Dentre vários países, Portugal e Brasil encomendaram essas armas para uso em seus exércitos, sendo que o Brasil fez uma aquisição, em 1906, de 5.000 pistolas em calibre 7,65mm Parabellum, muitas delas ainda presentes em coleções individuais e em bom estado de conservação.

O ano de 1908 jamais seria esquecido por George Luger nem pelas Forças Armadas Alemãs, uma vez que foi quando, finalmente, a Parabellum foi adotada oficialmente como arma de uso individual do Exército. A partir daí, sua nomenclatura oficial passou a ser P.08,  ou “Pistole 08″, nomenclatura essa que designa o ano de dotação e não o modelo da arma, que na verdade era o de 1906.

Pistola Luger (Parabellum) modelo 1906, adotada pelo Exército Alemão em 1908, em calibre 9mmX19

A P.08 era basicamente o modelo 1906 mas com cano de 4″ de comprimento, com 6 raias, alça de mira fixa, sem a trava de segurança na empunhadura e com um encaixe na parte inferior posterior da empunhadura para a adaptação de uma coronha. Alguns anos depois, a arma teve seu batismo de fogo com a entrada da Alemanha na I Guerra Mundial, onde provou ser uma ótima pistola. Com o término da guerra e a derrota da Alemanha, o Tratado de Versalhes lançou contra os países derrotados uma série de restrições quanto ao fabrico de material bélico. Dentre eles, havia a limitação de calibres em armas curtas que seria fixado no máximo em 8mm e o comprimento de cano, no máximo de 3″ 5/8. Para a D.W.M. isso não causou problemas maiores, pois simplesmente os canos seriam encurtados de 4″ para 3″ 5/8 e o calibre a usar seria o já existente 7,65mm Parabellum. O modelo chamado de 1923 era justamente esse, que passaria a ser distribuído às tropas, as quais também estavam restritas a um contingente máximo de 100.000 homens.

Entretanto, contratos estrangeiros como os da Suíça e o da Holanda continuaram mantendo a produção ocupada. A partir de 1930, um relaxamento natural das restrições do tratado já eram observadas. A D.W.M. já não mais existia com esse nome, mas sim como Berlin-Karlsruhe Industrie Werke (B.K.I.W.). Outros fabricantes da pistola foram surgindo na Alemanha, como a Simson & Co., da cidade de Suhl. Ainda em 1930, a  B.K.I.W. foi incorporada pelo mesmo grupo que detinha a maioria das ações da Mauser Werke, de Oberndorf. Todo o maquinário foi transferido de Berlin para a Oberndorf, e a Mauser, doravante, passou a ser a maior fornecedora das pistolas Parabellum, apesar de que continuou utilizando a marca registrada da D.W.M. até 1934.

Em 1933, os nazistas assumem o governo na Alemanha e a partir daí as restrições impostas pelo Tratado de Versalhes foram descaradamente desobedecidas e o novo governo iniciou um investimento de grande monta em material bélico. Com a invasão da Polônia pela Alemanha em 1939 se inicia o maior conflito armado da história. A pistola Luger entra na guerra ainda como a arma individual padrão da Wermacht, da Kiegsmarine e da Luftwaffe, exército, marinha e aeronáutica respectivamente, bem como utilizada pelas tropas independentes como as S.S.

Desde 1937 a casa Carl Walther, cujas pequenas pistolas modelos PP e PPK já eram muito utilizadas e apreciadas como armas de defesa pessoal por oficiais das forças armadas, cortejava o Governo Alemão com o intuito de fornecer uma nova arma, em substituição às P. 08. Neste ano, a Walther submete à testes de campo seu modelo HP, que foi muito bem aceito e elogiado pela comissão, pois tratava-se de uma pistola com características avançadas e sem alguns dos problemas críticos que as Luger costumavam apresentar, como falhas de operação devido à excesso de sujeira, óleo e poeira, que facilmente penetravam no mecanismo muito justo e parcialmente exposto da arma. Uma certa intolerância em relação à munição também era um caso sério na Luger, pois em tempos de guerra a qualidade e a inspeção final são muito desprezadas, o que resultava cartuchos mal feitos que não funcionavam bem na pistola.


A pistola Walther P38 em calibre 9mm Parabellum

A comissão alemã, que pouco antes da guerra já estudava a substituição das pistolas Luger acaba então, em 1938, por adotar a pistola da Walther, que passou a receber a denominação de P. 38, ou seja, Pistole 38. A substituição em tempo de guerra foi feita paulatinamente, sendo que a nova pistola necessitava ser fabricada por outros fornecedores, pois só a Carl Walther não possuía condições para suprir toda a demanda. Sendo assim, além da Walter, a arma passou a ser produzida pela Mauser e pelo arsenal de Spreewerke.

As marcas de códigos de identificação usadas eram “480″ e “ac” para as feitas pela Walther, “svw” e “byf” para a Mauser e finalmente “cyq” para Spreewerke. A Walther produziu 583.000 pistolas durante a guerra, em sua fábrica de Zella-Mehlis; a Mauser se encarregou de fabricar 340.000 armas e o arsenal de Spreewerke cerca de 285.000. A partir de 1942 foi encerrada definitivamente a produção de pistolas Parabellum pela Mauser Werke A.G., o que a fez dedicar-se integralmente ao fabrico das P-38.

Como projeto de pistola semi-automática, a P38 tinha características muito interessantes. Foi a primeira pistola a ser adotada por um exército dotada do sistema de dupla-ação, onde o primeiro cartucho poderia ser mantido na câmara e ao utilizar a arma, bastaria puxar o gatilho, como em um revólver. Além disso, apresentava um eficiente sistema de trava de culatra, uma janela de ejeção grande o suficiente para evitar travamentos, um cão externo e um sistema de trava de segurança eficiente, soluções similares às usadas pelas pistolas Beretta modernas.

Saiba mais sobre a história e detalhes desta arma em nosso artigo, aqui.

As duas pistolas que conviveram lado a lado no Exército Alemão durante a II Guerra: a Parabellum P-08 e a Walther P-38, ambas em calibre 9mm Parabellum, na foto com suas culatras abertas.

Seja como for, e controvérsias à parte, com excessão dos Estados Unidos, a Alemanha era o país mais bem servido de pistolas semi-automáticas durante a II Guerra. Além de possuir “em casa” duas excelentes armas, era prática comum durante a ocupação dos diversos países da Europa, a “adoção” de armas neles fabricadas e que possuíam boas qualidades, como ocorreu durante a invasão da Áustria, Bélgica, Polônia e Tchecoslováquia, onde as forças alemãs incorporaram as pistolas Steyr-Hahn 1911, Browning (FN) 1935, a Vis 35 (Radom) e as pistolas CZ (27 e 39), respectivamente.

ÁUSTRIA

A Áustria foi anexada ao III Reich antes do início da II Guerra, em 1938. Porém, antes da I Guerra, a Áustria era parte do então Império Austro-Húngaro, que agregava diversos países além da própria Áustria e a Hungria, tais como a Tchecoslováquia e Bósnia-Herzegovínia. Após a derrota na I Guerra, juntamente com a aliada Alemanha, em 1918, o Império foi totalmente desmembrado e vários países componentes se declararam independentes.

Em 1906 foi apresentada ao governo, para testes e avaliação, a pistola Roth-Steyr em calibre 8mm Steyr, projeto desenvolvido pelo engenheiro tcheco Karel Krnka em conjunto com o fabricante de munições Georg Roth. Após a aprovação da arma em 1907, a mesma passou a ser adotada oficialmente como Repetierpistole M7. Entretanto, Roth não possuía instalações nem estrutura para fornecimento das pistolas em larga escala. O governo então contratou a Österreichische Waffenfabriksgesellschaft (OEWG) localizada na cidade de Steyr, Áustria e também a FEG, na cidade de Budapest. De 1908 ao início da guerra em 1914, quase 100.000 pistolas foram produzidas.

A pistola Roth-Steyr em calibre 8mm, utilizada pelo Império Austro-Húngaro durante a I Grande Guerra

Antes de 1912, praticamente todas as unidades de cavalaria do Exército Imperial estavam equipadas com essa pistola, que teve grande aceitação por parte dos militares. A pistola possuía características interessantes para a época; possuía um carregador fixo embutido na empunhadura, com capacidade de 10 cartuchos calibre 8mm (8X19), cartucho esse desenvolvido especificamente para essa arma por Georg Roth.

Balisticamente o cartucho 8mm Steyr não era considerado muito potente, podendo ser situado em uma posição entre o 7,65mm Browning e o 9mm Browning Curto, o conhecido .380 ACP. Porém, várias munições fabricadas contavam com projéteis encamizados em aço, como o da foto à esquerda, o que aumentava em muito o poder de penetração mas, por outro lado, causava um desgaste prematuro no raiamento dos canos.  Mesmo com um cartucho não muito potente, a pistola utilizava um interessante sistema de trancamento de culatra, baseado no recuo e na rotação do cano em 90º, cujas estrias em alto relevo se encaixavam em rebaixos usinados na armação para manter cano e armação solidários no momento do disparo.

Utilizava um carregador tipo clipe para 10 cartuchos. Com o ferrolho aberto, encaixava-se o clipe em um engate existente sobre a armação e em seguida, usando-se o polegar, pressionava-se uma guia para baixo, inserindo assim todos os cartuchos para o interior do carregador. Após a retirada do clipe a culatra se fechava inserindo o primeiro cartucho na câmara.

Detalhe do carregamento da Roth-Steyr, com o clip encaixado na armação – após os cartuchos serem inseridos, o pente era retirado e o ferrolho se fechava, posicionando um cartucho na câmara.

Em 1911 o engenheiro Krnka apresentou um novo modelo de pistola, baseado em várias soluções que ele mesmo já havia empregado na modelo 1907, como o sistema de cano rotativo para se trancar a culatra, o carregador fixo no interior da empunhadura e o mesmo sistema de clipe de se carregar por cima. Em 1912, depois de ter sido aceita pelos órgãos do governo, a pistola foi adotada para substituir a Roth-Steyr que era, sem dúvida, um projeto bem mais antiquado.

Pistola Steyr-Hahn modelo 1912, em calibre 9mm Steyr, adotada em substituição ao modelo 1907

A Steyr-Hahn possuía um desenho bem mais moderno que sua antecessora, claramente inspirado nos projetos de Browning, como os modelos Colt 1902 e 1905, mas não se sabe o porque da insistência do projetista em ainda manter soluções já consideradas ultrapassadas na época, como o uso de magazine fixo ao invés de se utilizar um carregador do tipo destacável.

O sistema de trancamento de culatra (locked-breech) era bem interessante, consistindo em um cano giratório, composto de estrias helicoidais e de dois engates que se encaixavam na armação e no ferrolho, respectivamente. Na ocasião do disparo, e com o curto recuo desse cano (cerca de 8.0 mm), seu movimento giratório fazia com que os engates do cano se soltassem do ferrolho, liberando assim seu movimento.

A maior falha de projeto dessa arma foi, sem dúvida, o seu sistema de carregador fixo embutido na empunhadura, visto que algumas pistolas de uso militar, como a Parabellum, a Colt 1905 e mesmo a 1911 já possuíam carregadores destacáveis. O municiamento tinha que ser feito através de uma lâmina (clipe), muito similar à utilizada nos fuzis Mauser e na pistola Mauser C96, com capacidade de 8 cartuchos, que se encaixava em um recesso na parte superior do ferrolho. Uma vez empurrados os cartuchos para o interior da arma, esse clipe era retirado para que o ferrolho se fechasse. Era possível se municiar a arma sem a utilização de um clipe, mas o trabalho requeria uma certa habilidade. Os clipes não ocupavam muito espaço mas era comum os cartuchos posicionados nas extremidades se soltarem dos mesmos.

Devido à importância histórica dessa arma, e por suas peculiares características, Armas On Line dedicou a ela um artigo específico, que você pode acessar aqui.

POLÔNIA

Até a década de 30, as forças militares da Polônia eram guarnecidas por uma miríade de pistolas de diversas procedências, como as Browning, Colt, Steyr, Mauser e revólveres Nagant. Visando uma padronização, diversos projetistas e engenheiros foram convidados pelo Governo Polonês a desenvolver e apresentar um projeto de uma pistola semi-automática a ser adotada pelo Governo. Os engenheiros poloneses Piotr Wilniewczyc e Jan Skrzypińsky apresentaram seu projeto, uma pistola denominada de WiS, um anacronismo baseado nos nomes dos inventores, e que foi levado à testes em 1935 juntamente com pistolas da italiana Breda, da alemã Mauser e uma da fábrica suéca Skoda.

Devido a um empate técnico entre a pistola da Skoda e a WiS e provavelmente por motivos patrióticos, decidiu-se adotar a WiS como arma padrão do Exército. A produção da arma foi destinada à Fabryka Broni Lucznik w Radomu, de onde o nome Radom é originário e pelo qual a pistola ficou mais conhecida mundialmente. A denominação correta da arma mudou depois para Wz 35 Vis. Wz é a abreviatura de “wzór” (Modelo) e WiS foi substituído por Vis, palavra latina que significa “força”.

A pistola WiS em calibre 9mm Parabellum, dotação do Exército Polonês a partir de 1935

O desenho era claramente inspirado na Colt 1911 de John Browning, com algumas modificações. Era muito bem construída, com materiais de primeira qualidade e foi considerada por muitos estudiosos uma das melhores armas de sua época, apesar de não ter sido popularizada fora da Polônia. Usava o sistema de trava de culatra idêntico ao da Browning Hi-Power 1935, por curto recuo do cano, possuía uma trava de segurança na empunhadura e outra trava localizada no lado esquerdo do ferrolho, que quando baixada, primeiro retraía o percussor para o interior do ferrolho e depois liberava o cão para desarmar, permitindo um desengatilhamento seguro com um cartucho na câmara. Outro dispositivo que se assemelha à trava usada na Colt 1911, montado do lado esquerdo da armação, era utilizado somente para facilitar a desmontagem da arma. O cão era de formato redondo e recartilhado, e ficava ligeiramente confinado no interior do ferrolho para evitar enroscos.

Foram produzidas até 1945 cerca de 360.000 pistolas, que foram também utilizadas pelos alemães após a ocupação da Polônia. A arma pesava 960 gramas descarregada, com cano de 12 cm e um comprimento total de 17,6 cm., capacidade do carregador de 8 cartuchos. Após a guerra, a Polônia passou a utilizar as pistolas russas TT-33 (Tokarev) por influência do Pacto de Varsóvia. Em 1992, a empresa  Lucznik Arms Factory de Radom fabricou um pequeno lote de 27 armas só para distribuição a colecionadores.

UNIÃO SOVIÉTICA

Antes da II Guerra, o Exército Russo era um adepto ao uso dos revólveres para equipar suas tropas, algo aliás muito comum em diversos países participantes do conflito. Apesar de que as pistolas só começaram a surgir no cenário militar depois de 1900, claro que o domínio anterior dos revólveres permaneceu ainda por muito tempo. Durante muitos anos o Exército Imperial Russo usou os excelentes revólveres Smith & Wesson adquiridos dos USA em grande quantidade, fornecidos em calibre .44 S&W Russian, e posteriormente os revólveres Nagant modelo 1895 fabricados na Bélgica e depois localmente, em calibre 7,62mmX38R.

Em 1904 e 1905 esses revólveres foram utilizados em grande escala na guerra Russo-Japonesa e acredita-se que armas como essa tenham sido a utilizadas pelos assassinos de toda a família dos Romanov, ocorrida na adega do palácio imperial em Yekaterinburg.

Revólver Nagant de fabricação russa, de 7 tiros, calibre 7,62mmX38R, adotado pela Rússia Czarista em 1895

Os revólveres Nagant foram adquiridos inicialmente de Liège, na Bélgica, mas logo a produção foi transferida para a Rússia. devido à grande demanda para substituir os revólveres Smith & Wesson modelo 1874. Os projetistas belgas Léon e Émile Nagant já eram bem conhecidos e estimados pelo Czar Nicolau II e seus serviços eram levados em alta conta pelos militares imperiais, devido principalmente ao trabalho conjunto desenvolvido por eles e pelo engenheiro russo Mosin no  projeto do fuzil Mosin-Nagant modelo 1891, que equipou o exército russo até a II Guerra Mundial.

Esse revólver possuía uma característica única, criada pelo engenheiro Henri Pieper, que consistia em um mecanismo dedicado à avançar o tambor em direção ao cano em cada disparo, a fim de selar a abertura normalmente existente nos revólveres (o vão que fica entre o tambor e o cano) por onde há escapes de gases que geram ruído e, teóricamente, diminuem um pouco a potência do cartucho.

Ao lado, detalhe do tambor de 7 câmaras e seus recessos que se encaixam no cano.

Apesar de ser uma idéia interessante, obriga a arma a ter um complicado mecanismo, deixando o sistema de dupla-ação particularmente pesado pois, além do esforço de  acionar  o cão e girar o tambor, o que é comum a todos os revólveres, ainda necessita que o tambor seja empurrado para a frente. Além disso, estudos recentes provaram que a perda de potência pelo gap existente entre tambor e cano de todos os revólveres modernos é insignificante, abaixo de 5%, o que não justifica complicar a arma por esse motivo, bastando compensar a perda com uma carga propelente maior.

O cartucho de aro (rimmed) desenvolvido pelos Nagant era, particularmente, diferente. O projétil era encamizado e ficava confinado no interior do cartucho, dando a impressão de que foi pressionado acidentalmente para dentro. A cápsula tinha um pequeno estrangulamento na parte frontal para manter o projétil fixo em seu interior. Esse estrangulamento era necessário para que se encaixasse na parte posterior do cano e quando era disparado, selava a pequena folga ainda existente.

Apesar do comprimento do cartucho que era de 38mm, sua balística era comparável a um cartucho 7,65mm Browning (.32 Auto) da atualidade, medíocre para finalidades militares.

Um fato curioso merece menção aqui: essa particularidade de evitar os escapes de gases entre tambor e cano também cooperava para  uma pequena redução de ruído, um detalhe que de certa forma inviabiliza até hoje o  uso de silenciadores em revólveres. Em 1909, o americano Hiram Maxim patenteou o primeiro silenciador eficaz que se tem notícia, e os russos aproveitaram a idéia para usar esse dispositivo nos revólveres Nagant, o que ocorreu em muito pouca quantidade na duas Guerras Mundiais.

Esquema do funcionamento do sistema selador de escape de gases usado no revólver Nagant

Após a Revolução Socialista de 1917, militarmente falando, os soviéticos nunca foram adeptos nem de pistolas nem de revólveres, preferindo as sub-metralhadoras, uma particularidade que prioriza a ação ofensiva mais do que a defensiva. Porém, diversas unidades do exército apreciavam poder contar com uma arma leve para defesa pessoal para uso em alguma situação de emergência.

Uma comissão militar, chamada de Conselho Militar Revolucionário, foi formada para dar início ao desenvolvimento de uma arma portátil mais moderna, para substituir os antiquados revólveres Nagant modelo 1895. Tradicionalmente, pelo menos até a II Guerra, os soviéticos preferiam copiar projetos já existentes ao invés de desenvolverem por sua própria conta. De modo geral, faziam algumas modificações sobre o projeto que serviu de base, normalmente para reduzir custos e facilitar a fabricação. O acabamento nunca foi uma prioridade, posto que a grande maioria das armas fabricadas por eles eram toscas. Porém, elas davam bem conta do recado e funcionavam a contento, e isso era o que importava.

A pistola Tokarev TT 30, com talas de madeira

A pistola Tokarev TT30 (Tula Tokarev 30) não era uma excessão. Seu idealizador foi Fedor Vasilyevich Tokarev, oficial dos regimentos cossacos nascido em 1871 e falecido em 1996. Claramente se inspirando no desenho e nas soluções da pistola Browning modelo 1903, Tokarev procedeu a uma série de mudanças visando a simplicidade e deixando de lado os cosméticos. Assim sendo, a TT30 tinha uma aparência bem similar à Browning, mas com mecanismo de disparo totalmente diferente, optando por montá-lo num bloco separado.

Porém, a Browning 1903 era uma pistola sem trancamento de culatra (blowback), o que levou Tokarev a usar um sistema idêntico ao da Colt 1911, com o cano articulando sobre uma biela e com engates que se encaixavam em recessos usinados no ferrolho. O cão era externo mas parcialmente encoberto e sem arestas, provavelmente para evitar enroscos nas vestimentas pesadas dos soldados. O sistema de diparo era de ação simples, ou seja, a arma necessitava ser engatilhada antes do primeiro disparo.

Não tinha travas de segurança de nenhuma espécie, mas contava com um dispositivo “hold-open“, que travava o ferrolho na posição aberta após o último cartucho disparado. O carregador para 8 cartuchos era retirado por um botão situado perto do guarda-mato, acionado pelo polegar do atirador, aos moldes da Colt 1911.

O calibre utilizado foi o 7,62mm Tokarev (7,62mmX25), praticamente idêntico ao 7,63mm Mauser, de alta velocidade e boa potência, mas com poder de parada limitado, considerado bem inferior ao .45ACP da Colt.

Pistola Tokarev em calibre 7,62X25 mm adotada oficialmente pelo Exército Vermelho na II Guerra utilizando telas de ebonite com a estrela de 5 pontas ao centro.

Detalhe da pistola TT30 desmontada, onde se percebem o ferrolho, cano, carregador e armação bem similares à Browning 1903 e à Colt 1911 – à direita, o bloco onde se situava o mecanismo de disparo.


Após alguns anos, e visando facilitar ainda mais os processos e reduzir custos de manufatura, a TT30 é substituída pela TT33, com mínimas alterações internas. A produção durante a guerra foi bem alta, suprindo a maior parte das unidades da infantaria soviética mas não chegaram a substituir os revólveres Nagant em sua totalidade.

A pistola TT33 foi extensivamente copiada na China e passou a ser usada também pela Hungria, Polônia, Egito, Iugoslávia, Coréia do Norte, Paquistão e em mais de 30 paises da Ásia, África e Oceania. Indubitavelmente não era uma  arma bem acabada nem muito atraente, mas a pistola tinha um índice de confiabilidade muito grande e o  mais importante, de tudo, era fácil e barata de produzir. A partir de 1954, quando cessou a sua produção na U.R.R.S., o governo começou a sua substituição pela pistola Makarov, em calibre 9mmX18, um projeto baseado na alemã Walther modelo PP. Estima-se a produção das TT30 e 33, só na União Soviética, em cerca de 1.700.000 armas.

Pistola Makarov, adotada pela URRS em 1951 para substituir a TT30, usando um cartucho de calibre 9mmX18mm, gatilho de dupla ação, culatra no sistema “blowback”; essa arma não permitia o uso do cartucho 9mm Parabellum, muito potente para ela.

ITÁLIA

A Itália sempre contou com uma tradição muito boa em fabricação de armas, sendo que a fábrica Beretta, por exemplo, é a mais antiga fabricante de armas ainda em existência, em atividade desde o ano de 1400 e com documentação existente desde 1526. Não podia deixar de ser, a Beretta foi a mais importante fornecedora de armas para o Exército Italiano, com suas pistolas, sub-metralhadoras e metralhadoras. A arma pessoal preferida pelo oficial italiano era a pistola Beretta modelo 1934.

Pistola Beretta calibre .380 ACP, ou 9mm Browning Curto, adotada pelo Exército Italiano

Essa pistola era de desenho bem simples, sistema de culatra “blow-back”, pois utilizava um cartucho que não necessitava de sistema de culatra trancada, o 9mm Browning Curto, o conhecido .380 ACP. Não resta dúvida de que se tratava de um dos cartuchos mais fracos a serem adotados por algum exército, mas na realidade a pistola servia mais como arma de defesa pessoal dos oficiais do que para entrar em combate, propriamente dito.

A qualidade do produto era muito alta, uma marca registrada do fabricante que sempre esmerou na fabricação de suas armas. Foi apresentada e adotada pelo Exército Italiano em 1934, passando a ser denominada de M1934. Posteriormente lançou-se o modelo 1935, arma praticamente idêntica, mas em calibre .32 Auto, ou 7,65mm Browning, cartucho por demais ineficiente para uso militar. Um fato interessante era a marcação feita nas armas de fabricação durante o regime fascista de Mussolini. Esse regime criou um calendário alternativo ao Gregoriano, iniciando em 28 de outubro de 1922 (data da chamada Marcha sobre Roma), de forma que uma pistola fabricada em 1939, como a da ilustração acima, trazia a marcação XVII (17), ou seja, décimo-sétimo ano do calendário.

O modelo 1934 tinha boas características, como o ainda hoje tradicional ferrolho com grande abertura de ejeção, o que facilita bastante o ciclo da arma, martelo externo e trava de segurança ao alcance do polegar do atirador. Entretanto, apesar de que após o último disparo o ferrolho parasse aberto, ao se retirar o carregador o mesmo se fechava, o que atrasava um pouco a velocidade de carregamento. O modelo 1934 foi feito até 1991, com pouco mais de 1 milhão de armas produzidas.

Soldados aliados, tanto norte-americanos como ingleses apreciavam muito essa pequena mas excelente pistola, de modo que ela foi bastante surrupiada de oficiais italianos mortos ou aprisionados, e eram posteriormente utilizadas pelos soldados aliados como arma para porte dissimulado.

Uma outra pistola, participante das duas guerras mundiais, foi a Glisenti, em calibre 9mm, fabricada a partir de 1910 pela Real Fabricca d’Armi Glisenti, indústria fundada por Giovanni Glisenti em 1860. Seu cartucho, de uso exclusivo dela, era na verdade cópia do alemão 9mm Parabellum porém com uma carga menos potente. O uso do cartucho 9mm Parabellum nessas pistolas expõe o atirador a um risco muito grande.

A pistola Glisenti M1910 em calibre 9mm Glisenti, adotada pelo Exército de 1910 a 1934, quando foi substituída pela Beretta. Porém, continuou em serviço devido à escassez de pistolas produzidas em época de guerra. Nota-se nas placas da empunhadura, feitas de ebonite, o brasão da Casa dos Sabóias.

Os italianos já haviam utilizado em razoável quantidade as pistolas Mauser C96, cujo contrato de cerca de 5.000 armas havia sido assinado em 1899. Porém, após essa aquisição nunca mais houve outra, de forma que a quantidade de pistolas Mauser existentes se tornou pequena com o início da I Guerra Mundial. Desta maneira, a firma Meccanica Bresciana Tempini, de Brescia, se encarregou de produzir em série a pistola Glisenti, uma vez que em 1906 Glisenti abandonou o negócio, transferindo seu maquinário e desenhos para a Tempini. A pistola pesava vazia cerca de 800 gramas e utilizava um sistema de trava de culatra oscilante, uma espécie de bloco articulado em um eixo que se encaixava na parte inferior do ferrolho. A capacidade do carregador era para 7 cartuchos.

Possuía um interessante sistema de segurança, muito similar ao utilizado pelas pistolas Tipo 14 japonesas: na parte frontal da empunhadura, logo abaixo do guarda-mato, havia uma peça com acabamento ranhurado, que era pressionada para dentro ao se empunhar a arma, destravando desta forma o curso da tecla do gatilho. Quanto ao cartucho, a idéia da Tempini era utilizar o próprio 9mm Parabellum, o que depois de alguns testes se mostrou potente demais. Tempini então reduziu a carga do cartucho 9mm Parabellum em cerca de 25% e padronizou dessa forma o seu cartucho.

Desenho esquemático da pistola Glisenti, onde se pode notar o bloco oscilante que age como trava de culatra

As talas de empunhadura eram feitas de ebonite, material similar ao baquelite, porém frágeis ao ponto de sempre se quebrarem em qualquer queda que a arma sofria sobre uma superfície rígida. Por esse motivo, algumas delas passaram a ser fornecidas com placas de nogueira zigrinada, mas sem ostentar o escudo dos Sabóias. Outra coisa interessante era uma peça em formato de chave, que ficava armazenada em um dos lados da empunhadura e só acessível após a retirada de uma das talas, peça essa que servia para se desmontar o ferrolho da arma.

O cartucho 9mm Parabellum era fartamente encontrado na Europa durante a II Guerra, de modo que os italianos não abriam mão de utilizá-los de vez em quando nas pistolas Glisenti, apesar dessa prática ser rigorosamente proibida dentro do Exército. O que acabava acontecendo é que a arma, com o uso constante daqueles cartuchos, acabava causando acidentes sérios, como o desprendimento total do ferrolho no momento do disparo, atingindo o rosto do atirador. Fatos assim só contribuíram para piorar a fama da pistola e ela acabou fazendo juz a um apelido jocoso e até mesmo injustiçado: “a Luger dos pobres”.

FRANÇA

Esse é outro país com pouca ou quase nenhuma tradição no desenvolvimento de pistolas semi-automáticas, de forma que conviveu por muitos anos com os revólveres equipando suas tropas. Um dos que mais de destacaram e que permaneceu em serviço por muito tempo foi o Modelo de Ordenança 1892, conhecido erroneamente como revólver Lebel.

Este revólver foi desenvolvido por uma comissão nomeada pelo governo francês e adotado como arma regulamentar do exército em 1892. É um revólver de dupla-ação, de tambor escamoteável (swing-out cilinder) com capacidade para 6 cartuchos. Possuía um cano de 4″ e um peso de 940 gramas quando municiado.

O cartucho é denominado de 8mm Lebel, o que  provavelmente ocasionou o fato da arma ser chamada por este nome; foi originalmente produzido para uso com pólvora negra (carga de 0,79 gramas) e posteriormente modificado para uso com pólvora sem fumaça (carga de 0,30 gramas). Possui 37 mm de altura total, com o cartucho medindo 27 mm. Utiliza um projétil encamizado em cobre de 7,8 gramas de peso, com velocidade inicial em torno de 225 m/seg., um projétil sub-sônico, portanto. Sua potência é baixa para uma utilização militar, ficando num patamar similar a de um cartucho 7,65mm Browning.

O revólver Modèle d’Ordenance, 1892 em calibre 8mm

Era uma arma bem construída, de materiais de primeira qualidade, produzida principalmente pela Manufacture d’Armes de Saint Étienne, tradicional e importante fabricante de armas da França. Sua armação era fechada, nos moldes dos revólveres Smith & Wesson e Colt norte-americanos, com tambor que se escamoteava para o lado direito, ao contrário dos americanos. A extração dos cartuchos era feita por uma caneta e uma estrela que expulsava todos os cartuchos de uma só vez. Possuía um interessante sistema que permitia que a tampa lateral que cobre todo o mecanismo, incluindo o guarda-mato, podia ser articulada  como uma dobradiça, expondo assim as peças internas para desmontagem ou limpesa.

Detalhe do revólver M1892 com sua placa lateral escamoteada, exibindo o mecanismo interno

Interessante citar, como curiosidade histórica, que esse revólver foi importado pela antiga Força Pública do Estado de São Paulo, por volta das décadas de 20 e 30, e em razoável quantidade para equipar os policiais da corporação. No começo dos anos 50, começaram a ser gradativamente substituídos por revólveres nacionais, fabricados pela Taurus, em calibre .38 SPL. Ainda hoje se encontram excelentes e bem conservados espécimens dessa arma, em mãos de ex-oficiais da corporação além do que são muito apreciados pelos colecionadores.

Esse revólver serviu o Exército Francês, independente de sua baixa potência, por muitos anos até meados da II Guerra Mundial, quando a França resolveu aposentá-los e adotar pistolas semi-automáticas, das quais a primeira delas foi a MAB 1935 utilizando o fraco cartucho 7,65mm Browning, ou .32 Auto.

Essa arma era baseada no modelo 10/22 da F.N. belga, um projeto original de Browning, com pequenas modificações na aparência externa da empunhadura e a colocação de uma trava de segurança e do botão para extrair o carregador em uma posição mais cômoda, ao alcance do polegar do atirador. Foi produzida na Manufacture d’Armes de Bayonne até cerca de 1963, e utilizada pelas forças militares e policiais da França inclusive após a II Guerra, como no conflito da Hindochina e na Guerra do Vietname. Uma variação um pouco menor foi produzida e destinada à venda no comércio para uso por civís, denominada de modelo C.

É evidente que o calibre é considerado inadequado para defesa, ainda mais para uso militar ou em combate. Durante a II Guerra, com a França ocupada pela Wehrmacht, passou a ser utilizada por alguns membros ligados ao Partido Nazista e até mesmo pelo Exército, sendo que várias delas são encontradas com marcações de prova alemãs, apesar de que algumas dessas pistolas foram, claramente, marcadas após a guerra por comerciantes inescrupulosos, tentando transformar uma pistola comum em um ítem atrativo para colecionadores.

Acima a pistola MAB modelo D em calibre 7,65mm Browning

Lado direito da pistola MAB modelo D, onde claramente se percebe a semelhança com a F.N. modelo 10/22

Outra pistola que foi adotada pouco antes da II Guerra era mais adequada ao uso militar, por utilizar um cartucho um pouco mais potente do que o da MAB, apesar de não ser padrão e nunca ter sido utilizado por qualquer outra pistola no mundo: o cartucho 7,65mm French Long. Essa arma se denominava Pistolet Modèle 1935. Ela foi projetada especificamente para participar de testes de avaliação a serem conduzidos pelaCommission d’Experiences Techniques de Versailles, que a partir de 1935 iniciou os trabalhos para escolher a arma que seria adotada pelas Forças Francesas.

A pistola Modelo 1935A produzida pela S.A.C.M.

Seu projeto é de autoria do então Capitão Charles Petter, que trabalhava na Société Alsacienne de Constructions Mécaniques de Cholet (SACM) baseado no sistema de trava de culatra de Browning. Inicialmente a arma aprovada foi a modelo 1935A, das quais foram produzidas cerca de 10.700 antes da ocupação alemã na II Guerra. Após a ocupação a produção da pistola continuou sob supervisão alemã como “Pistole 625 (f)”, sendo que a letra (f) é oriunda da palavra Frankreich, que é como os alemães se referem à França.

Apesar dela disparar um cartucho não muito potente, a arma utilizava o sistema de tranca de culatra similar à Colt 1911, mas ao invés de utilizar as duas tradicionais ranhuras sobre o cano, que se encaixavam em recessos no ferrolho, Petter optou por aumentar o diâmetro da câmara para que ela mesma se encaixasse na abertura da janela de ejeção, solução mais simples e que é usada hoje em dia em várias pistolas, como exemplo nas austríacas Glock e nas nacionais Taurus 24/7.

Uma prova da qualidade e virtudes do projeto é a que, após a guerra, a empresa suíça SIG (Schweizerische Industrie Gesellschaft) adquiriu os direitos de produzir a arma naquele país, sendo o ponto de partida para o projeto da pistola SIG modelo P210.

À esquerda, tres épocas de cartuchos franceses: o 8mm Lebel do revólver de ordenança, o 7,65mm Long e o 7,65mm Browning.

Uma outra variante foi produzida, além da modelo 1935A: era o modelo 1935S, que  foi apresentado com diversos aperfeiçoamentos técnicos, permitindo processos de fabricação mais baratos e um desenho de empunhadura retilíneo, o que a deixou mais ainda parecida com a Colt 1911.

Uma pistola modelo 1935S, produzida durante a II Guerra pela M.A.C.

Durante o período de guerra, a produção das pistolas 1935A e 1935F foram entregues a diversas outras fábricas francesas,  que eram concorrentes entre si na época de paz, tais como a MAS (Manufacture d’Armes de Saint-Étiènne), a M-F (Manufacture Française d’Armes et Cycles de Saint Étiènne), a  SAGEM (Societé d’Applications Generales d’Electricité et de la Mecanique) e a MAC (Manufacture Nationale d’Armes de Chatellerault), essa última a que mais quantidade produziu, cerca de 56,000 armas.


Acima uma pistola MAC 1935S desmontada, onde se percebe a similaridade com a Colt 1911 de Browning. Veja no detalhe, o cano sem as ranhuras encontradas nas Colt 1911.

REINO UNIDO

Antes da II Guerra Mundial, a preferência britânica recaía invariavelmente em seus revólveres. Os principais revólveres ingleses envolvidos nos dois conflitos foram os Webley & Scott e os Enfield. A Inglaterra, um país tradicionalmente conservador, sempre relutou um pouco em aceitar mudanças quaisquer que fossem, de uma maneira geral. Isso causou diversos transtornos nos dois conflitos mundiais, onde a presença de armamento antiquado gerava muitas críticas de dentro e fora do âmbito militar, haja visto a relutância, por exemplo, em se adotar a sub-metralhadora Thompson oferecida pelos USA e inicialmente recusada, porque “o Exército não necessitava de uma arma que era utilizada por gângsters”.

Revólver Webley & Scott Mark III em calibre .455

Os revólveres Webley eram venerados pelos militares inglêses e sempre tiveram participação ativa e muito confiável em todos os conflitos gerados pela expansão territorial do Império Britânico, espalhados por diversas regiões do mundo e com os mais diferentes climas e ambientes. Apesar de seu desenho já ser obsoleto na II Guerra, os revólveres Webley não costumavam deixar seus usuários na mão, fossem convivendo com a areia nos desertos do norte da África ou debaixo de chuva e na lama das úmidas selvas da Birmânia.

Foi adotado pelo Império Britânico em 1887, substituindo os revólveres Enfield Mark I de 1879, que disparavam somente cartuchos com pólvora negra, no calibre .476. O Webley & Scott serviu até 1963 em diversas unidades do Exército, mesmo com a presença de outras armas adotadas posteriormente a II Guerra. Trata-se de um revólver de dupla-ação, modelo “top-break”, ou seja, de abrir por cima. Com o cano basculando para baixo, o extrator automático expulsa de uma só vez os seis cartuchos deflagrados do interior do tambor, o que é uma operação muito rápida e prática. Nesta posição, o tambor pode ser recarregado com facilidade, pois suas seis câmaras estão expostas ao mesmo tempo. O revólver também pode ser utilizado em ação simples, engatilhando-se manualmente o martelo a cada tiro, o que permite uma pressão menor sobre o gatilho, pois em dupla-ação, além do curso ser longo, ele é bastante duro.

Revólver Webley & Scott Mark IV, em calibre .455

O modelo Mark IV e o Mark VI foram os mais utilizados durante a II Guerra, pelos oficiais e graduados do Exército. Pesava cerca de 1,100Kg desmuniciado e o comprimento total era de 28cm. Embora não comum durante a guerra, uma versão dos modelos Mark VI foi fabricada no calibre .38-200, armas essas adotadas por algumas unidades da Polícia Britânica até bem pouco tempo.

Um Webley & Scott do modelo Mark VI, o mais utilizado na II Guerra Mundial, também em calibre .455

O cartucho .455 Webley, no início carregado com pólvora negra, foi a partir da versão Mk II carregado com cordite, um tipo de pólvora sem fumaça, onde atingia cerca de 700 pés/seg de velocidade; apesar dessa relativa baixa velocidade, tinha um bom poder de parada (“stopping-power”), comparado até ao .45 AR norte americano.

O peso do projétil podia variar de 220 grains (14 gramas) a 265 grains (17 gramas) em versões que iam do totalmente feito em chumbo, semi canto-vivo, até mesmo uma jaquetada. Embora hoje seja considerado um cartucho obsoleto, ainda há diversos fabricantes na Europa que o produzem, como a Fiocchi e a Gecco.

O revólver Webley, principalmente devido ao seu peso, um bom balanço e munição não excessivamente potente, era uma arma relativamente fácil de controlar e mesmo pessoal não muito bem treinado conseguia resultados bem satisfatórios com ele.

Apesar de ter sido exaustivamente usado e testado em diversos campos de batalha, na II Guerra os revólveres Webley estavam, aos poucos, sendo substituídos pelos um pouco mais modernos revólveres Enfield, particularmente o modelo Nº 2 Mark I, em calibre .38-200. Esse revólver foi adotado pelo Exército Britânico em 1936 e permaneceu em serviço até cerca de 1957.

Seu projeto era baseado nos revólveres Webley mas foi tanto internamente como externamente modificado pela Real Fábrica de Armas Portáteis de Enfield. É inegável a semelhança do novo mecanismo do Enfield com os revólveres da Smith & Wesson norte- americanos. A eliminação do guarda-mato, agora formando uma peça única com a armação, eliminando-se assim um excesso de peças, mais a tampa lateral para desmontagem, são exemplos bem claros dessa similaridade. O novo formato da empunhadura também foi claramente inspirado nos Smith & Wesson.

Infelizmente em alguns aspectos o trabalho da Enfield afetou profundamente o humor dos soldados que o portavam, pois seu gatilho era ainda mais pesado e duro do que de seus antecessores. Alguns modelos do revólver eram produzidos com a cabeça do martelo eliminada, a fim de impedir o enrosco em qualquer tipo de saliências comuns à ambientes confinados, como dentro de viaturas e carros de combate. Com isso, a arma não permitia nem o uso em ação simples, caso fosse a necessidade de se obter um tiro mais preciso.

O revólver Enfield Nº 2 Mark I, versão com martelo cortado para evitar que a arma enroscasse em alguma saliência

Diagrama mostrando o mecanismo interno do Enfield Nº 2 Mk I

É curioso imaginarmos por que razão os militares britânicos resolveram substituir os revólveres Webley, com seu eficiente cartucho .455 por um outro revólver, superior na simplicidade e na facilidade de construção, mas com um calibre fraco como era o .38-200, na verdade o mesmo cartucho americano .38 S&W, conhecido erroneamente como .38 Smith & Wesson Curto. Este cartucho, também conhecido na Inglaterra como .380 Revolver, era bem menos potente que o cartucho .38 Special, que já estava em uso por unidades da Força Aérea Norte Americana.

Aliado ao fato de serem famosos pela pouca precisão, devido ao gatilho duro, vários combatentes britânicos preferiam, na primeira oportunidade, trocá-los até mesmo pelos Webley .455 ou pelos mais preferidos Smith & Wesson americanos, fornecidos por esse fabricante à Inglaterra durante a guerra. O sistema de abertura “top-break” foi mantido, igual à dos Webley, ao invés de se adotar a opção do tambor escamoteável (swing-out cilinder) usada nos Colt e Smith & Wesson americanos.

Enfield Nº 2 Mark I, versão com o martelo tradicional, que possibilitava seu uso em ação simples, melhorando a precisão.

Porém, o cenário até então dominado pelos dois revólveres estava mudando. Algumas unidades aero-terrestres e de comandos já estavam utilizando uma das melhores pistolas concebidas até aquela data: a Browning modelo 1935, também chamada de “Hi-Power”, em calibre 9mm Parabellum, com carregador com capacidade de 13 cartuchos, fabricada no Canadá pela firma Inglis e na Bélgica pela Fabrique Nationale D’Armes de Guerre. Porém, com a ocupação deste último país pelas forças alemãs, somente o Canadá tinha condições de continuar fornecendo a arma. Para saber mais detalhes sobre esta arma, e devido à sua importância no cenário militar e mesmo no uso civil, temos um artigo bem abrangente aqui.

A Browning Hi-Power 1935, calibre 9mm Parabellum, capacidade de 13 cartuchos, modelo dotado com mira tangencial como os fornecidos para algumas unidades britânicas

Além da utilização, embora mais ou menos limitada, da pistola Browning 1935, o Reino Unido também empregou a pistola semi-automática Webley & Scott, apesar de que, com excessão da Royal Navy que a adotou em 1912, ela nunca foi padrão no Exército. Porém, em tempos de guerra, muitas coisas mudam, mesmo na Inglaterra, de modo que as Webley em calibre .455 Webley Auto foram parar nas mãos de vários combatentes.

Essa pistola foi apresentada para testes ao Small Armas Comitee em 1910, órgao responsável por analisar e aprovar a utilização de armas pelas forças militares. Como foi aprovada nos testes, apesar do pouco entusiasmo dos examinadores, acabou sendo recomendada para uso na Marinha Britânica a partir de 1912. Posteriormente, acabou indo equipar membros da Royal Horse Artillery e do Royal Flying Corps. A pistola possuía uma aparência um pouco estranha, com um ferrolho de formato quadrado e a empunhadura em um ângulo não muito anatômico.

Porém, tinha qualidades, como uma construção robusta, relativa simplicidade de mecanismo e empregava um cartucho potente com bom “stopping-power”, baseado que foi no .455 utilizado nos revólveres. A balística geral deste cartucho era similar ao .45 ACP em uso nas Colt 1911.

Entretanto, com o suprimento de cerca de 39.500 pistolas Colt mod. 1911A1 que o governo norte-americano promoveu nos tres primeiros anos da I Guerra, e pela superioridade inegável que as Colt possuíam sobre as Webley, essas pistolas foram muito pouco presentes no cenário de combate na Europa.

A Webley era uma pistola semi-automática, com capacidade para 7 cartuchos em um carregador inserido na empunhadura, com disparo sistema ação simples, ou seja, necessitava ser engatilhada manualmente antes do primeiro tiro.

Pistola semi-automática Webley & Scott em calibre .455 Webley Auto

A Webley & Scott calibre .455 Webley Auto

O sistema de culatra da Webley era tipo “locked-breech”, usando um interessante método onde o cano, ao recuar, baixava alguns milímetros no interior da armação, através de ressaltos inclinados ali existentes, que coincidiam com rebaixos usinados na face interna da armação. Possuía uma trava de coronha, solução que foi muito bem aceita por diversos projetistas de pistolas militares, como a Colt 1911 e a Parabellum, pois evitava de alguma forma o disparo acidental da arma quando não estivesse sendo empunhada. Seu peso era de 1,110 Kg descarregada, comprimento total de 216 mm e com cano de 127 mm.

JAPÃO

Outro país não muito adepto do uso de armas curtas entre seus guerreiros, sendo que muitos oficiais japoneses eram vistos, muitas vezes, portando mais espadas do que pistolas, o Japão foi um dos mais desafortunados países em relação ao seu armamento como um todo. Nenhuma arma curta ou longa que equipava o exército japonês podia ser digna de ser muito elogiada.

Com relação às suas armas curtas, o Japão adotou para uso de seus oficiais duas pistolas que possuíam, além do nome em comum e cada uma a seu modo, características bem estranhas: foram a pistola Tipo 14 e a pistola modelo 94.

A Tipo 14, acima ilustrada, projetada por Kijiro Nambu, claramente inspirada na aparência da pistola alemã Parabellum, não tinha mais nada em comum com aquela arma além da semelhança. Utilizava um pequeno e fraco cartucho de calibre 8mm, com baixo poder de parada, muito similar em desenho com o 7,63mm Mauser, mas longe de ter as qualidades deste último.

Das pistolas alemãs Parabellum (Luger), produzidas desde 1900, a Nambu herdou o formato e o ângulo de inclinação da empunhadura, a peça que serve de base do carregador, o guarda-mato circular e até o cartucho que disparava. Porém, as semelhanças terminam por aí. Mecanicamente, são armas completamente diferentes. A Nambu não utiliza o peculiar ferrolho articulado de ação de joelho, como nas Lugers. Na verdade, usa até uma solução muito mais simples; um ferrolho feito em uma só peça e com uma mola recuperadora posicionada do lado esquerdo do mesmo.

A pistola modelo modelo 94 (foto acima) é designada por muitos estudiosos, como a pior pistola militar semi-automática já construída. Projetada pelo mesmo oficial japonês Kijiro Nambu, foi uma alternativa encontrada para a substituição do Tipo 14, de fabricação muito mais cara e demorada. Utilizava o mesmo e ineficiente cartucho 8mm Nambu de sua antecessora.

O ferrolho da 94 era feito em duas peças. A peça que recuava propriamente dita tinha como dispositivo de parada uma pequena lingueta transversal, algo considerado frágil, mesmo tendo em conta que o cartucho era fraco e a arma possuía uma trava de culatra. A desmontagem era um pouco mais complicada que a Tipo 14 e aí poderia ocorrer algo perigoso: na remontagem, a arma poderia ser completamente montada, mas sem a trava de culatra. Como se tratava de uma peça pequena, seria até fácil perdê-la num local confuso e nem se dar conta dela ao montar. O resultado podia ser catastrófico pois a pistola se converteria numa “blow-back”, ou seja, o ferrolho poderia ser ejetado para fora da arma bem na direção do rosto do atirador.

Apesar da popularidade da arma junto aos oficiais do Exército, ela nunca foi considerada taticamente importante em batalhas. Num exército onde os oficiais se sentiam mais seguros usando suas tradicionais espadas e outras armas de lâmina, oriundas de herança de família, uma arma como esta, de precisão medíocre e qualidade duvidosa, era mais um “traste” para ser carregado ou talvez útil para se cometer suicídio em caso de ser aprisionado, do que algo em que se poderia confiar a vida em um campo de batalha.

As pistolas Nambu mereceram um capítulo à parte em nosso site. Para conhecer melhor essas armas, acesse o artigo por aqui.

ESTADOS UNIDOS

Os Estados Unidos da América tiveram sua estréia na II Guerra no teatro do Pacífico, após o ataque japonês à Pearl Harbor, no final de 1941. Entretando, desde 1911 suas forças militares já contavam com uma das melhores e mais famosas pistolas até hoje fabricadas, a Colt modelo 1911 em calibre .45ACP.

Toda a saga e desenvolvimento dessa arma são minuciosamente descritos aqui em nosso site, em dois artigos distintos a saber:

A Colt 1911 História e Desenvolvimento e A Colt 1911 – Os testes de 1907

Nesses dois artigos descrevemos a evolução e desenvolvimento da arma, sua participação histórica em todos os conflitos mundiais e finalmente a sua dotação oficial como arma regulamentar do Exército Norte-Americano, com os testes de campo iniciados em 1907 e terminados em 1911, em Springfield, Massachussets.

Entretanto, cabe aqui um resumo da situação pré-guerra dos Estados Unidos. Adotada em 1911,a  Colt participou já da I Grande Guerra, seja nas mãos dos norte-americanos como nas mãos de soldados britânicos. No começo da II Guerra, o Governo dos USA traçou um plano de cooperação com a Inglaterra, de forma que passou a fornecer àquele país uma quantidade considerável de revólveres Smith & Wesson em calibre .38 bem como de pistolas Colt 1911 em cal. 45ACP.

Pistola Colt 1911A1 em calibre .45ACP, arma padrão regulamentar dos Estados Unidos de 1911 a 1974

Com a entrada dos USA na guerra, todo o esforço de produção de armamentos era necessário agora para suprir a demanda do próprio país. Além da pistola 1911, o Exército e Aeronáutica utilizaram revólveres, basicamente tres modelos, um da Colt e dois da Smith & Wesson. Mesmo depois da adoção da 1911 pelo Exército, a Aeronáutica continuou utilizando em grande quantidade os revólveres da Smith & Wesson em calibre .38 Special. Era um modelo muito similar ao comercial, vendido pela empresa no mercado civil e fornecido para a maioria das unidades policiais norte-americanas.

Uma arma confiável, de porte médio, mas com um calibre não muito indicado para uso militar, com seu projétil de chumbo. Porém, devido à sua utilização, visando mais a defesa pessoal de seus pilotos do que combater numa frente de batalha, o revólver até que cumpria bem sua finalidade.

À esquerda, o Smith & Wesson .38 SPL e seu coldre de couro

Devido à uma real necessidade ou até mesmo de preferências pessoais, unidades de cavalaria mecanizada do Exército gostavam de revólveres mais do que de pistolas, como se uma tradição desde os tempos da cavalaria montada ainda permanecesse viva entre seus membros. Essas unidades foram as que mais utilizaram dois revólveres, ambos em calibre .45ACP, que foram testados em 1907 juntamente com várias pistolas e que, apesar da adoção da pistola Colt, não foram deixados de lado. Um deles era o Smith & Wesson DA 1917, em calibre .45ACP ou .45AR, revólver de armação grande, construção robusta e esmerada, com durabilidade e confiança à toda prova. Seu sistema de gatilho era de dupla-ação, cilindro rebatível com capacidade de 6 cartuchos. Originalmente projetado para usar a mesma munição da pistola, o cartucho .45ACP, necessitava de um jogo de dois clipes meia-lua, onde os culotes dos cartuchos eram fixados, a fim de facilitar a extração. Porém, podia disparar a contento a mesma munição sem uso da meia-lua, mas a extração dos cartuchos poderia ser dificultada.

Uma solução encontrada para evitar o uso desses adaptadores foi desenvolver um outro tipo de cartucho, mas contando com um aro (rimmed), carregado com projétil de chumbo e com carga propelente equivalente ao .45 da pistola, denominado de .45 Auto Rim.

Smith & Wesson DA 1917 do modelo Contrato Brasileiro de 1937

O outro revólver adotado pelo Exército Americano era o não menos famoso Colt New Army, também em calibre .45ACP, arma igualmente robusta e extremamente resistente, de tamanho um pouco mais avantajado do que os da Smith & Wesson.

O Colt New Service em calibre .45 ACP

Ambos os revólveres granjeavam de enorme popularidade e reporta-se até o fato de alguns combatentes preferirem utilizá-lo no lugar da Colt 1911, talvez por tradição ou até mesmo pelas indiscutíveis vantagens que um revólver possui sobre uma pistola semi-automática, a mais importante delas a confiabilidade e a maior rapidez de poder ser disparado novamente, após um incidente de nega ou falha do cartucho.

De qualquer forma, e encerrando aqui a nossa lista de países participantes do conflito, não resta dúvida de que a II Guerra Mundial veio selar definitivamente a utilização militar das pistolas semi-automáticas sobre os revólveres, como arma individual ofensiva ou de defesa pessoal, uma tendência iniciada mesmo antes da guerra e que tornou-se hoje, padrão em todas as forças militares em atividade.

Fonte: http://armasonline.org/armas-on-line/armas-curtas-na-ii-guerra-mundial/

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